terça-feira, 11 de agosto de 2009

Goiano pra inglês ver

Acabei de ler no jornal Diário da Manhã uma matéria sobre a banda goianiense de rock Black Drawning Chalks. O texto trata a banda como "a bola da vez" e anuncia um fato inédito para um grupo da cena "independente" local: a fama internacional.

O incomodo não me escapa ao ler esse tipo de matéria, não pelo sucesso dos caras, mas pelos motivos de tal sucesso. Num dias desses ouvi os tais na MTV, por acaso, e percebi que seu som se parece ao de muitas bandas inglesas e norte-americanas dos anos 70. No minímo um anacronismo, pra não falar de um mimetismo cultural pouco criativo. Mas é exatamente o que eles querem e, pelo visto, o motivo de seu sucesso.

Suas letras são em inglês, seu visual lembra os gringos, mas tão no meio do cerradão. É isso que nossa cultura está produzindo para exportar? Nossa cultura?? Não sou um nacionalista roxo, nem um regionalista ortodoxo, mas não consigo engolir 95% dessa cena rock de Goiânia. É muita falta de criatividade pro meu gosto. É muito sexismo barato. É muito rock and roll pra quem tá num país com uma música popular tão rica.

Esses fatos não parecem incomodar quem busca ser um "rockstar" nas palavras dos próprios. Aliás, eles estão bem alheios a isso, como estão à cultura local, à realidade que os cerca. A imprensa também não levanta esse debate, pelo contrário, prefere a tradicional babação de ovo. Se pelo menos fosse uma apropriação criativa da cultura estrangeira, como já fizeram tantos em nossa música popular, mas por aqui é a mais pura imitação barata. Digo, no sentido da criatividade, pois os caras podem até tocar muito bem, mas isso não basta pra ser música interessante.

Fica a provocação: afinal, a música produzida por aqui, original e criativa, de bandas como Umbando, Senhor Blanchu, Triêro, Torre de Jamel, Vida Seca, Cega Machado, Diego de Moraes e o Sindicato entre outros, não ganha mais espaço porque? Será um problema de produção ou é ruim e só eu a acho interessante? Vamos continuar tendo que ouvir esse som pra inglês ver e ouvir ser considerado o ó do borogodó destas terras? Tá ai o desabafo e o convite ao debate.

Triste de um povo que não se enxerga.

4 comentários:

  1. é isso ae ricardo, concordo.
    talvez seja a banda da vez mas só por essa semana também, afinal o que é rock and roll?
    uma propaganda de iogurte, de refrigerante?
    a monstro?

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  2. ia dizer: falou e disse!
    palavras boas e bonitas, é bom provocar um pouco mais de criatividade.

    mas mesmo assim, é uma repetição, a vida em si, os conselhos, a revolta e até mesmo a música. se é a cultura local ou o roque em rou, não importa mesmo.

    eu bem curto roque em rou e acho bom ver novas bandas aparecendo com novas músicas, novas tendências, como mesmo a taenia solium ou o señores, um panque roque, panque roque.

    agora é diferente, música pra merchandising, né? acho que é disso que estamos falando.. essa banda aí é muito merchandising, feita pra fazer sucesso e tocar na eme ti vi. quem sabe não conseguem provocar o estardalhaço que conseguiram com a mallu magalhães, a menina que canta encantadoramente parecida com a cat power.

    o roque em rou não faz por mal.. os produtores, as produtoras. os aspirantes a famosos, bom esses/as, não sei..

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  3. e um tanto de vírgula desnecessária!

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  4. Meu problema com o rock and roll é que brasileiro fica tirando onda de gringo. Agora, vai ver se lá nas terras do norte os caras montam grupos de samba. Isso se chama imperialismo cultural.

    Outro problema que meu ouvido anda meio chato, ele anda pedindo por sons mais instigantes e cheios de um sentimento que me remetem ao mundo ao meu redor, a sonoridade do meu povo, seja ela tradicional ou reiventada.

    Abraços!

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