quinta-feira, 7 de março de 2013

Encontros e Despedidas

Nessa vida passamos por muitos encontros e despedidas. A história da Fábrica Cultura Coletiva tem sido repleta de encontros, que resultaram nesta construção coletiva tão importante para a história de Goiânia. Desde que surgiu acompanhei a movimentação ao qual depois iria fazer parte diretamente. Tem sido uma experiência muita rica, tantas pessoas, diferentes ideias que convergem e geram produções conjuntas, apoio mútuo, aprendizado.

Agora surge um desafio, que é o de deixar a proximadade física cotidiana para construir a teia pela cidade. É o desafio de difundir sem perder a fusão que existe. Talvez agora seja o grande momento para que esses laços se reforcem, contrariando a ideia que poderia surgir a mente de alguns pelo abandono do local centralizador.

Para comemorar essa transição, essa Metamorfose, e lembrar os grandes momentos vividos na casa da rua 3, nº 546, centro, Goiânia, celebremos então nesta sexta com a certeza de que grandes tempos virão para se somar aos que passaram!

Aliás, o grupo que participo, Vida Seca, vai marcar presença com os dejetos sonoros!!!

Fábrica Cultura Coletiva se despede com FESTA: SEXTA, 08-03! from Eduardo Carli de Moraes on Slide.ly.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Nu Escuro encerra primeira temporada de Gato Negro

Hoje os moradores do bairro Criméia Oeste e adjacências poderão conferir o espetáculo Gato Negro, da Cia Teatral Nu Escuro, na Praça do Jacaré. Esta será a última apresentação da temporada de estreia do trabalho, que passou com sucesso pela Praça Universitária, Parque Areião e Ilha da Galhofa, em Goiânia.

A salutar arte na rua para nossa alegria!!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Daquele Instante em Diante nasceu um imortal

Conheci a música de Itamar Assumpção nos idos de 2003, o ano de sua morte. Foi na casa do meu amigo Igor Zargov, ouvindo uma coletânea de arquivos mp3 gravados. Lembro que foi um tempo de abertura da minha mente para artistas que não eram da "elite" da música popular brasileira, como o Tom Zé e o Arrigo Barnabé, mas que me arrebataram com um sentimento de gostoso estranhamento.

À época não consegui ter a dimensão do Itamar, que ainda não estava tão falado como hoje, ainda mais aqui em Goiânia, onde poucos conheciam sua obra. De fato, senti logo de cara que era um artista bastante singular, que eu nunca tinha ouvido nada igual. Com o tempo li mais sobre sua trajetória e descobri o contexto histórico em que estava inserido, do que ficou conhecido como a Vanguarda Paulistana.

Neste fim de semana assisti ao documentário Daquele Instante em Diante, na mostra Iconoclássicos, que está sendo exibida aqui em Goiânia pelo Cine Cultura. Me emocionei muito com o filme, com seus depoimentos e imagens reveladoras sobre a personalidade e a arte de Itamar. Suas neuras sobre seu lugar na história da nossa música, que já se podia perceber em suas letras, é revelada ainda maior em várias entrevistas, assim como sua inflexibilidade, mas ao mesmo tempo aparente frustação, de não alcançar o sucesso comercial através da indústria do disco vigente na época e em meios como o rádio e a televisão.

Não me ficou claro até onde ele resistia ou não era aceito pelo mercado. Isso o marcou por toda a carreira, tanto que em seus discos finais e póstumos muitas letras fazem referência a este conflito. Rogério Skylab discorre num texto muito interessante sobre o lugar de Itamar, algo entre o experimentalismo radical de Arrigo e as experiências no campo da canção que Luiz Tatit e o Grupo Rumo empreendiam. Ele era experimental, radical, mas esteve sempre inserido na tradição da canção popular brasileira, negando-a mas seguindo seus preceitos, numa antítese que depois se tornaria aos poucos mais sintética em seus discos com a banda Orquídeas Selvagens e no disco em que recria a obra de Ataulfo Alves.

Ao ouvir os discos de sua Caixa Preta e agora vendo este sensível documentário constato algo que parecia, nas palavras de muitos dos colegas e amigos entrevistados no longa, uma destino inescapável obra de Itamar, a posteridade. Bem, não posso dizer se isso realmente é o que querem os artistas, a glória em vida em detrimento do esquecimento póstumo, ou o contrário. O fato é que o interesse e fascínio pelo Nego Dito só estão aumentando e não devem parar tão cedo. Eu estou incluido ai, pois o conheci logo após sua morte e como o próprio nome do filme diz, daquele instante em diante só aumentou meu interesse e admiração.

Longa vida à música de Itamar Assumpção, Benedito Santo Silva Beléléu, vulgo Nego Dito, Nego Dito Cascavel!

Assista ao documentário Daquele Instante em Diante, que a propósito deve ser reprisado no Cine Cultura amanhã ou depois.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Sexta-feira movimentada

Se o mês de fevereiro continuar como esta sexta-feira, dia 01, vai ser realmente demais. Hoje vou tocar com os dois projetos que participo, o grupo Vida Seca e a banda Pó de Ser.

O primeiro evento é o Happy Hour da Casulo Moda Coletiva, que recebe o projeto Hip Rock Gira Brasil, com as bandas paulistas Mel Azul e Comitê e nós do Vida Seca. Acontece às 19 horas na Fábrica de Cultura Coletiva, rua 3 quase esquina com Av. Araguaia, Centro. Lembrando que amanhã o projeto terá outra edição na Diablo Pub, com as duas bandas de Sampa e a goiana Chimpanzés de Gaveta.

Mais tarde, no Loop Estúdio, é a vez da Pó de Ser lançar seu EP Tudo Torto em Linha Reta no evento Adios Diego, que marca a despedida do nosso querido Diego de Moraes, que irá passar uma temporada em São Paulo.

Não posso esquecer também que hoje, à meia-noite na Praça Universitária, os nossos companheiros da Cia Teatral Nu Escuro estreiam seu espetáculo Gato Negro.

Hoje também estréia no Cine Cultura a Mostra Iconoclássicos, que apresenta cinco filmes sobre artistas marcantes da nossa cultura, o músico e compositor Itamar Assumpção, o artista plástico Nelson Leirner, o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa e o cineasta Rogério Sganzerla, e uma adaptação do livro Catatau, do poeta Paulo Leminski.

E sei que haverá ainda muita coisa por ai, que eu nem sei, mas fico feliz só de imaginar. Goiânia pulsando arte e cultura!!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Audição para a Quasar Jovem

A Quasar Cia de Dança abre audição para o grupo Quasar Jovem, neste próximo sábado, dia 02 de fevereiro.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Encontro de Folias em Goiânia

Uma ótima oportunidade de prestigiar nossa cultura popular!

Últimas estréias de janeiro no Cine Cultura

Que maravilha anda a programação do Cine Cultura. Depois da Mostra Leos Carax, tivemos o misterioso Tio Bonmme, e o nacional Sudoeste, que infelizmente apresentou problemas na cópia e saiu prematuramente de cartaz. Agora temos mais duas produções que me parecem muito interessantes, Ha Ha Ha do sul-coreano Hong Sang-soo, e filme o da Julia Murat, uma produção que obteve algumas boas críticas. Então, nos resta agora conferir com nossos próprios olhos e ouvidos.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Programa Goyazes de Incentivo à Cultura tem novas normas

Uma notícia importante para os artistas goianos foi divulgada hoje. O Conselho Estadual de Cultura juntamente à Secretária de Cultura atualizaram as normas para o processo de inscrição e avaliação de projetos culturais que queiram pleitear apoio do Programa Goyazes, ou seja, a Lei Estadual de Incentivo à Cultura, conhecida no passado como Lei Goyazes.

Leia a íntrega desta nova situação no site do Conselho Estadual de Cultura de Goiás.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Festival do Boneco abre inscrições

cartaz da última edição do festival

A terceira edição do Festival do Boneco abre inscrições para grupos e artistas interessados em participar.

As inscrições estarão abertas entre os dias 21 de janeiro e 21 de fevereiro e o edital pode ser acessado na página do evento, que irá acontecer entre os dias 4 e 10 de maio.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Como a exclusão, a intolerância e a ignorância contribuem com o aumento da violência no Brasil

Arte de Eric Drooker

Compartilho aqui um artigo do meu amigo Diego Mendonça, uma resposta ao artigo extremamente equivocado publicado por Marcelo Caixeta no jornal Diário da Manhã. Este texto do Diego me emocionou, tanto com seu embasamento, que contrapõe as opiniões rasas e preconceituosas de Caixeta, como pela sua esperança de que nós, seres humanos, podemos ir além da brutalidade e do autoristarismo.

Como a exclusão, a intolerância e a ignorância contribuem com o aumento da violência no Brasil

Diego Mendonça*

Texto em resposta à opinião publicada pelo Médico Psiquiatra Marcelo Caixeta no Jornal Diário da Manhã no dia 1 de janeiro de 2013.

“O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”.

Frase atribuída a Martin Luther King

Perplexidade! É o primeiro sentimento que me ocorreu ao findar a leitura do texto do Sr Marcelo Caixeta, médico especializado em Psiquiatria do Adolescente, publicado no Diário da Manhã no primeiro dia do ano de 2013. Logo vieram outras reações – indignação, raiva, pena, risos e por fim a paciência, principalmente histórica, que me impulsionou a redigir algumas linhas.

Importante identificar meu lugar de fala: sou homem, heterossexual, branco, vivente de uma condição econômica descrita comumente como “Classe Média”, pai de uma linda menina de 3 anos, e integrante de uma família nuclear composta por 3 pessoas – eu, minha companheira e nossa filhinha. Sei que não é muito agradável essa descrição, mas o contexto demanda certa localização.

Analisando o texto do referido psiquiatra, podemos rapidamente identificar uma confusão de conceitos e conclusões – apontamento da legislação vigente como pura e unicamente de “inspiração feminista”; uma visão limitada da categoria “Trabalho” e seu desenvolvimento histórico, processual e contraditório, logo dialético; argumentação conveniente do recurso à violência no processo educativo e sua condenação consequente e desprendida em outras situações e relações sociais; o desprezo por propostas lógicas ao se argumentar a importância da unidade familiar nucleada como o diálogo entre pais e filhos; a autoridade máxima do homem (viril) na experiência social e suas variadas relações; conceitos pessoais e subjetivos tratados de forma universalizada e paradoxal, como a referência a uma possível “verdadeira felicidade”; e por fim, a mistificação da violência focando em um de seus aspectos, grave porém não único, o número elevado de homicídios, tratado de forma descontextualizada sem identificação social, econômica, de gênero, de grupo, etc., o que oculta possíveis motivações e uma análise mais próxima à realidade, prejudicando o julgamento e a consequente elaboração e aplicação de políticas públicas que possam contribuir para a resolução da questão.

Em primeiro lugar, vamos desconstruir a pecha negativada destinada ao “feminismo”, termo que alcançou um grau elevado de estigmatização no argumento do autor. O “feminismo” (em aspas para lembrar a diversidade de suas correntes e linhas de ação), assim como várias outras inspirações e princípios coletivos, como os vários movimentos contestatórios e de libertação mundo a fora, foram e ainda são fundamentais no processo de aprimoramento democrático. Basta lembrar que até bem pouco tempo atrás as mulheres não podiam votar ou expressar livremente suas opiniões. O mesmo ocorria com os negros e com a população indígena, que eram forçados ao trabalho escravo. Foram os movimentos inspirados em ideais libertários que através da ação superaram essa situação.

Como todo processo histórico, essa transformação tem sido lenta e envolta por contradições. As mulheres, os negros, indígenas, ainda lutam por direitos inalienáveis e para ocuparem espaços representativos na sociedade, já que suas realidades seguem sendo, em grande parte, a vivência cotidiana da exclusão social e econômica, da opressão, da estigmatização, e da violência, em escalas pessoais e institucionais.

A democracia é um projeto em constante construção, e se na experiência contemporânea gozamos de direitos fundamentais, é graças à ininterrupta luta e conquista dos segmentos, grupos e povos oprimidos que através da organização e da ação transformaram a realidade, ao custo de muitas vidas. Dentro deste grupo fundamental às transformações sociais, sejam econômicas, culturais ou políticas, devemos incluir com toda a convicção o movimento das mulheres, que segue em luta contra a hegemonia do patriarcado e sua violência diária.

Vivemos em uma sociedade de domínio patriarcal, na qual a mulher é tratada como objeto ao bel-prazer do homem, que é estimulado a ser viril. Nesta sociedade a violência é banalizada na formação educacional e cultural de seus indivíduos, excluindo-se propostas contra-hegemônicas que visam processos emancipatórios. Ensinar a uma criança, através do exemplo, que a violência resolve e educa, e é legitimada por um discurso de autoridade familiar e afetiva, contribui para formar mentalidades onde o uso da força para se alcançar os objetivos é naturalizado. E é importante reafirmar que esse comportamento é tolerado muitas das vezes se fazendo uma distinção de gênero, algo do tipo – meninos são agressivos e meninas são vulneráveis / meninos brincam com armas de brinquedo e meninas com bonecas / meninos tem a curiosidade aguçada e as meninas tem a sua altamente reprimida em nome de um tal “recatamento”. Claro que são só alguns exemplos, mas servem para apontar o tipo de formação hegemônica que temos na sociedade, isso sem fazer recorte de classe e/ou de raça, o que multiplicaria imensamente as contradições.

Fica a pergunta – como os princípios “feministas” contribuem com a violência? Segundo o caro psiquiatra, é graças ao “abrandamento” e à falta de “pulso firme e corretivo” na formação, ressaltando que esse papel cabe ao pai. Ora, se o “feminismo” visa justamente a extinção da opressão, a realização de processos de formação equitativos, o fim da violência, tanto doméstica quanto social, o respeito entre os parceiros e à diferença, uma vida digna pra todos, como essas ideias podem se converter em potenciais propulsores da violência? Não seria o contrário? A insegurança do patriarcado vendo suas posições confortáveis sendo partilhadas pelas antes subjugadas mulheres não estaria gerando uma reação violenta?

Ainda seguindo a argumentação do texto, cabe questionar outro ponto levantado - Seria a “verdadeira felicidade” um atributo concedido aos homens viris, possuidores de autoridade, e das mulheres que vivem sob o jugo de seus “machos”? Seriamente me pergunto como pode existir felicidade se não em um ambiente harmonioso onde a liberdade e o respeito sejam considerados fundamentais. A não preocupação com o outro me parece uma característica comum aos psicopatas, e uma sociedade que assegura a felicidade de alguns sobre os demais, em diferentes âmbitos e relações, terceirizando as responsabilidades e dissabores sempre ao outro, só pode ser uma sociedade psicopata, não doutor? E quem quer viver em uma sociedade com tão grave patologia?

Vamos lembrar da contestação histórica ao sonho de correntes psiquiátricas que almejam a adequação total e inquestionável do indivíduo ao corpo social, adequação essa que se baseia no princípio dos fins justificando os meios, sustentada ideologicamente por setores conservadores que não admitem a diferença ou os questionamentos dos códigos instituídos. Por certo esses grupos respaldam a felicidade e o condicionamento proporcionado pelas drogas legalizadas e a reclusão compulsória, justificando a necessidade desse ato em prol da coletividade, a deles, claro. Essas correntes da Psiquiatria colaboraram historicamente como arcabouço acadêmico e retaguarda médica para o processo de “assepsia/limpeza social” e outras barbaridades. É a realização da política do controle total, dos corpos e das mentes.

Não causa estranhamento se associarmos essas políticas e princípios defendidos por essa Psiquiatria com a legitimação da existência de grupos de extermínio para “corrigir” (como diz o autor) essa suposta patologia social que é o “indivíduo transgressor, um adolescente com educação liberal que só, e unicamente por isso, comete ilícitos e crimes”. É o ocultamento do triunfo da barbárie de uma sociedade que se especializou em estimular o consumo desenfreado, excluir, criminalizar, “corrigir” e exterminar os ditos “problemas”. Não cabe uma análise mais profunda e sensível que considere outros vetores e recortes. Tudo está muito claro. O que resta ao poder público é executar a “correção” e a limpeza, e se esse não o faz, os “cidadãos de bem” legitimamente o fazem, gozando ainda de cobertura do espetáculo midiático.

A Mídia e seu papel merece um destaque nesse processo. Os veículos e seus produtores não se preocupam em desmistificar a violência e buscar encontrar suas causas, pressionando assim o poder público e pautando a sociedade. Ela antes se aproveita do contexto da violência, da vulnerabilidade emocional e psicológica das pessoas através de tramas sensacionalistas, cumpre a agenda de seus anunciantes, em grande maioria os governos de situação e empresas e corporações que acima de tudo visam o lucro, vende o discurso da segurança pública pautada na tolerância zero e confundo seus interlocutores sobre a importância dos Direitos Humanos, tratado na maior parte das vezes como um entrave à justiça, isso quando não apregoam o absurdo chavão “Direitos Humanos para humanos direitos”.

Dito isso, é preciso relembrar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos surgiu em um contexto de pós-guerra, massacres e em geral de ausência de legislação específica sobre o tema, o que levou a humanidade a sistematizar certos direitos inalienáveis e universais para todo e qualquer ser humano, e que quase todos os países assinaram e incorporaram em suas legislações, dentre eles o Brasil. Essa sistematização e sua redação não foi um processo guiado exclusivamente por feministas, elas estiveram presentes sim, mas antes foi uma síntese jurídica, política, cultural e social que busca assegurar direitos básicos para toda a humanidade baseados na justiça, na liberdade, na paz, na solidariedade e na dignidade. Seriam estes conceitos que estariam contribuindo para o aumento da violência no Brasil ou o seu desrespeito? E como poderíamos culpar as mulheres por isso?

Quase 64 anos depois da Declaração, não vivemos em um contexto de guerra declarada no Brasil, mas há quem diga que vivemos uma situação de guerra contínua, com a institucionalização da exclusão, da desigualdade social e a criminalização da pobreza, segmento que vê seus jovens tombarem dia após dia e recebe em resposta parcas campanhas e políticas de compensação social.

Como se pode facilmente constatar, as orientações presentes no texto da Declaração dos Direitos Humanos continua atual e a busca por sua implementação se mostra urgente. Na segunda década do século XXI a violência não cessou, se considerarmos em um contexto amplo em que ela se apresenta pulverizada nas relações, em termos de escala ela só cresceu. Em particular, a situação de violência contra as mulheres segue existindo, apesar de iniciativas e avanços como o caso da Lei Maria da Penha. Todos os dias os casos de violência doméstica e estupro ocupam manchetes e ocorrências policiais, isso sem mencionar os inúmeros casos que permanecem ocultos, que acredito serem de maior quantidade que os publicizados. Se a violência contra as mulheres continua existindo, a luta de seus setores organizados é justa e legítima, e a busca pela inserção de preceitos equitativos nos processos de formação também.

Ainda cabe dizer que no Brasil, um grande esforço tem sido realizado com o objetivo de formular diretrizes e implementar políticas públicas no âmbito dos Direitos Humanos. A realização mais notável nesse sentido é o Programa Nacional de Direitos Humanos, que se encontra em sua terceira versão e foi elaborado em um processo com participação popular, e sofreu e tem sido alvo de ataques e duras críticas dos setores mais conservadores da sociedade que intencionam manter seu padrão de vida, suas práticas e privilégios, como é o caso dos ruralistas, militares, muitas agrupações religiosas e a grande mídia.

Dado tanto esforço coletivo, diverso, histórico e processual no sentido do aprimoramento da democracia, como se pode em um ato covarde culpar mais uma vez um grupo que segue em condições desfavoráveis e oprimido em diferentes aspectos como as mulheres e suas vertentes de atuação política denominadas de “Feminismo”?

Por fim, é preciso trazer à luz a complexidade do tema Violência. Destacar um de seus aspectos ou consequências, no caso o alto número de homicídios, e universalizar indiscriminadamente sem aprofundar e buscar compreender as causas - estruturantes, morais, políticas, psicológicas, religiosas – contribui antes para a mistificação da situação e não contribui para a construção de propostas efetivas a serem convertidas em políticas públicas. É muito cômodo realizar a análise imediata, rasa e pontual dos casos e tecer a conclusão baseada nas próprias crenças, sem levar em consideração o arcabouço histórico social e político que é diverso e complexo. É óbvio que se precisa de ações urgentemente, mas elas devem ser baseadas seguindo preceitos dos Direitos Humanos e da legislação vigente, contar com a participação popular, com a família e grupos de afinidade e apoio, e não se tolerar a sedução por soluções impulsivas e bárbaras como a buscada por grupos de extermínio e as políticas de higienização social.

Podemos considerar que a violência tenha aumentado, mas não que aumentou somente no caso de crimes cometidos por adolescentes “zumbis” (como afirma o doutor) desajustados. A violência aumentou graças ao abismo social e econômico produzido pela enorme desigualdade de nossa sociedade, aumentou impulsionada pelos desejos e vazio resultantes da sociedade de consumo, e sua política de competição e rivalidade constante, pelo estímulo à virilidade, intolerância e autoritarismo proferidos pelo Modus Operandi do patriarcado, pela atuação do Estado e seus braços armados, pela ininterrupta venda da política do medo e isolamento e o desprezo por experiências coletivas e comunitárias, pelo fanatismo homofóbico e religioso, pela corrupção e a hegemonia de um sistema político hermético, melindroso e inacessível, pelos conteúdos e valores transmitidos pela grande mídia e sua própria estrutura vertical e autoritária, pela exclusão no espaço urbano e a consequente política de periferização da pobreza, pela usura bancária e a transmissão de seus valores pela sobreposição dos demais em busca de “ser um vencedor”, graças ao modo de produção que se alimenta constantemente da violência, e incontáveis outros fatores. Os adolescentes são só a ponta, caro psiquiatra, pegá-los pra “boi de piranha” é muito fácil.

A “caça às bruxas” (que aqui parece ter um sentido literal dado o grau misógeno no texto do Sr Marcelo) não ganha eco em uma sociedade consciente e democrática, mesmo que em constante construção. Precisamos transformar a sociedade a fundo e superar os preconceitos, a intolerância e promover a justiça social. Quem sabe assim consigamos realmente diminuir a taxa de homicídios e os índices de violência, sem que pra isso seja preciso recorrer a artifícios absurdos como culpar o “Feminismo” e as mulheres por inspirarem e elaborarem uma legislação tolerante que supostamente acarrete jovens violentos e preguiçosos.

Espero sinceramente que minha filha cresça em um mundo que a trate com respeito, carinho e equidade e que possa viver sem medo de ser violentada ou oprimida por um homem, e que possa vivenciar a cidade como um espaço público e coletivo, onde as políticas de limpeza social e controle total dos indivíduos sejam coisas do passado ou ficção científica.

* Diego Mendonça é realizador audiovisual, micro empreendedor, poeta e pai.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Nu Escuro estréia novo espetáculo Gato Negro!

A Cia Teatral Nu Escuro está estreando seu novo espetáculo Gato Negro, nas praças e parques desta Goiânia escolhidos por uma enquete feita pela Cia através das redes sociais na internet.

Foram escolhidos a Praça Universitária, seguida pelo Parque Vaca Brava, a Ilha da Galhofa e o espaço ao lado do Circo Lahetô. Ainda vão ser divulgadas as datas e horários, mas já fica a expectativa por mais um trabalho de umas das mais ativas e criativas Cias teatrais de Goiânia.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Senti sua falta Cine Cultura!

Me lembro de um momento mágico da minha experiência com as artes, com o cinema. Foi há cerca de 15 anos, quando meu carissímo amigo Ennio Jacintho comentou comigo, na época um rato de locadora, que havia um cinema em Goiânia que exibia filmes clássicos e que lá estava em cartaz um filme considerado obra-prima do cinema, O Sétimo Selo de Ingmar Bergman.

Naqueles tempos eu não era afeito ao cinema em P&B e praticamente não assistia filmes europeus. O meu máximo eram os clássicos americanos dos anos 70, os filmes da turma do Coppola, Scorsese, etc. Mas eis que vivi momentos de catarse com aquele filme tão belo e profundo de Bergman, minha vida se transformou, eu me abria ao cinema, à arte, e conhecia o Cine Cultura.

Depois vieram muitos momentos maravilhosos naquela salinha, filmes nacionais, estrangeiros, clássicos e contemporâneos. Tive fases mais assíduas e outras menos, mas certamente foi triste que o espaço tenha passado tanto tempo fechado.

De qualquer forma o que importa mesmo é que o Cine Cultura está de volta e com uma bela programação. Eu não consegui me organizar pra conferir a programação de dezembro, o que me causou certo arrependimento, mas estou empolgado com o que está por vir. Meus parabéns à nova direção que está realizando um belo trabalho, importante pra saúde artística e cultural dessa cidade!

Confira a programação e outras informações no site do Cine Cultura!