segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Voltando de um encontro de culturas

Mais uma vez estive no Encontro de culturas tradicionais da Chapada dos Veadeiros, na Vila de São Jorge, em Alto Paraíso, Goiás. Desde 2007, quando conheci o encontro e a chapada, não deixo de ir a este maravilhoso evento.

Neste ano, como nas edições anteriores, a programação demorou muito a ser divulgada. Faltando poucos dias para o inicio das atividades ela saiu, e trazia o nome de Nana Vasconcelos para o encerramento. Me nutri de grande expectativa para ver este grande mestre ao vivo, mas sua ida foi cancelada, e a justificativa dada foram problemas de saúde.

Para substitui-lo foi convidada Lia de Itamaracá, lenda viva da ciranda pernambucana, que realizou uma apresentação belissima, de grande energia e com imensa simpatia, que conquistou a todos e nos fez esquecer a frustação de não ver Nana. Antes e ao seu lado, se apresentaram os maracatus Leão Coroado, o mais antigo de todos, e o recente Piaba de Ouro, um maracatu rural fundando por Mestre Salustiano, que foi homenageado. Um banho de cultura pernambucana bastante salutar para todos e todas que apreciam esta rica cultura.

Tive a oportunidade de conhecer os camaradas do Boi de Ribamar, do Maranhão, que em um animado bate papo me convenceram a ir visita-los no ano que vem durante o período de festa juninas. Seus grandes pandeiros me impresionaram pela forte sonoridade e também pelo grande peso, que exige de quem o toca grande resistência física. A combinação deste instrumentos com as matracas e uma grave cuíca, cria a sonoridade peculiar do Boi de Ribamar.

Outro momento marcante deste encontro foi a presença do músico senegales Mamour Ba, que nos encantou com sua oficina e sua apresentação. Mamour, além de nos brindar com seu conhecimento e técnica apurada sobre a percussão africana, nos possibilitou momentos de sabedoria. Para aqueles que souberam ouvir, como ele mesmo enfatizou, não se esquecerão jamais de suas lições, principalmente a enfâse na música como movimento corporal, na importância do estudo sincero, no aprendizado como audição atenta e na paciencia como grande virtude para o músico e para a vida. Obrigado Mamour.

Ah sim, não poderia me esquecer do surpreendente Canhotinho da Viola do Jalapão tocantinense, que com sua rústica viola feita da palmeira Buriti nos brindou com uma sonoridade única, uma afinação singular e singelas letras que relatam suas experiências cotidianas. Grande sabedoria e humildade, Canhotinho ensinou a fazer a viola e pudemos ver várias pessoas passeando por São Jorge com sua violas de Buriti em punho. Meu querido amigo rabequeiro Jeferson trouxe uma pra Goiânia(aliás, é digno de nota a participação do Jef neste encontro, o homem tocou com todo mundo, abalou).

Zé Mulato e Cassiano nos brindaram também com seu humor e sabedoria, numa apresentação memorável. Meu destaque vai para sua inteligentissima canção As Vantage da Pobreza, uma lição de vida. Destaco também a participação dos grupos de Goiânia, especialmente a nossa querida Cris Perné, que fez ferver a casa Cavaleiro de Jorge, os Passarinhos do Cerrado com seu animado coco e o grupo Sertão, que fez uma belissima apresentação, destacando composições voltadas ao sertão goiano. Belo demais, inspirador.

Por fim, como crítica construtiva espero que os organizadores tenham mais cuidado com a programação e sua divulgação, em respeito ao público e aos pesquisadores que vão ao encontro guiados por ela. Nada, no entanto, que tire o brilho desta grande festa da cultura popular, um momento para conhecermos nossas origens, nos conectarmos com o essencial que muitos de nós perdemos nesta vida urbana e capitalista massacrante. Até o próximo encontro!

Um comentário:

  1. Nossa! q fóda! teve até Zé Mulato e Cassiano !
    nunca fui, mas espero poder ir um dia...

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