Esta semana o novo ícone da direita goiana, Marconi Perillo, realizou um encontro ``suprapartidário`` com diversas pessoas do segmento artístico goianiense. O tema: a recuperação do Centro Cultural Oscar Niemeyer. O mesmo que ele inaugurou às pressas no final de sua gestão como governador, sem que a obra tivesse as condições para tal.
Como disse em artigo recente, seu ex-vice, hoje inclusive seu adversário, nos fez o desfavor de manter no abandono uma obra que já nasceu deficiente e servindo como objeto de projeção eleitoral para Perillo, que agora vem, com todo o cinismo e cara de pau que os políticos brasileiros cultivam, clamar à classe artística que se una em prol da recuperação do espaço.
Somente os ingênuos não percebem que a reunião foi parte de uma estratégia eleitoral, já que o PMDB, principalmente na figura do deputado estadual Thiago Peixoto, vinha buscando usar a insatisfação de artistas e de parte da população para ter ganho político. Até publicou um artigo em um jornal da capital adulando os roqueiros que estão organizando uma manifestação contra o abandono do Centro. Marconi, astuto e ardiloso, começou então a desfiar elogios à mobilização via Twiiter e logo articulou a tal reunião.
Me pergunto o critério para convidar os artistas lá presentes. Não conheço os interesses dos que estavam lá, mas sei que alguns estavam lá de curiosos, imagino que outros de oportunistas e muitos como bons puxa-sacos dos poderosos que são. De todos esses, nenhum teve a coragem de questionar o porque da inauguração apressada e precipitada do Centro Cultural Oscar Niemeyer. Com certeza os que a tem não foram convidados.
A relação da classe artística com os governos é sempre complicada, pois esta depende demais dos incentivos públicos para se manter viável como atividade econômica que possa remunerar artistas, produtores e demais pessoas envolvidas no segmento. Essa relação muitas vezes descamba para artistas chapa branca, atrelados a políticos, que perdem a coragem de ser críticos, com medo de serem preteridos nos editais e convites para eventos promovidos pelos governos. É claro que muitos artistas são conservadores e sempre estarão prontos pra apoiar e calar perante qualquer um que esteja no poder, para sempre estarem dentro das panelas de favorecidos. Mas me preocupo com outros, que por medo ou oportunismo, se tornem dóceis e deixem de exercer uma das principais virtudes da arte, que é trazer à tona as contradições da realidade, doa a quem doer.
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eu fui nesse almoço, por sinal tava gostoso. a cerveja também, ah! ví um poket show do juraildes, outro do andré e andrade que eu adoro! conversei com varias pessoas, tava na mesa do domá da conceição, rimos muito de tudo, ouvimos o "home" e ficamos bêbados. foi ótimo!
ResponderExcluirnão puxei saco de ninguem, sou apartidario mas sou artista, tudo que me interessa eu estarei lá pra ver,ouvir e ser ouvido.
Pra você ver hein amigo, que o pão e circo funciona também com os artistas. Espero, e acredito, pelo que você disse, que esteja vacinado contra isso. Estarão todos?
ResponderExcluirTambém estive lá...
ResponderExcluirtrocando uma idéia com o Domá (que não se deixar domar!), com o Arnaldão Freire, com a galera do coletivo pequi, com o escritor Edival Lourenço, etc.
Não acho que vendi minha alma ao diabo só por aceitar o convite para ir lá observar, "Captou?" rs
Nem me sinto ingênuo ou puxa-saco só por ter comido um bifão ao molho madeira e tomado uma cerva com o Pádua, ouvindo histórias hilárias do Sérgio Sampaio (que, se tivesse vivo e ali, talvez estaria no meio da festa cantando a sua verdade "cruel":
"Há quem diga que eu dormi de touca,
que eu perdi a boca
e fugi da briga"...).
É como o próprio Raul que "pra aprender o jogo dos ratos: dançou com Deus e com o lobisomem".
Ricardo, concordo que "uma das principais virtudes da arte é trazer à tona as contradições da realidade, doa a quem doer". Porém, como o artista poderá trazer essas contradições da realidade se não vivenciá-la (e observá-la e absorvê-la) de dentro?
Acho que "se" o artista fica preso no mundo ("do campo das idéias") do sectarismo, do moralismo, dos apriorismos e do radicalismo: ele não terá uma atitude "dialética" (ou "dialógica"), pois só verá uma face da moeda.
Lembremos que Marx foi um grande "especialista" em Adam Smith!
Lembremos também do nego dito Itamar:
"Cultura sabe que existe miséria existe fartura (...)
que existem milhões de outras culturas".
Aliás, antes dessa constatação, o beleléu dizia-nos, matando a xarada:
"A ditadura pulou fora da política
E como a dita cuja é craca é crica
Foi grudar bem na cultura
Nova forma de censura".
Ele criticava os tiriricas da vida.
Porém, o que não dá é para voltarmos às "formas de censura" típicas das "patrulhas ideológicas"...
Estamos (ou não) em 2010?
Captei vossa mensagem ó antenado guri. Fico feliz que você não se sinta ingênuo ou puxa-saco em relação a esse episódio de nossa cínica politica. Sempre imaginei que você estaria no grupo dos curiosos.
ResponderExcluirDe certas realidades contraditórias eu prefiro me manter distante, pois possuo e acredito em alguns principios que me mantem longe delas. Escolhi já o meu lado da trincheira.
Eu como artista quero me misturar a outro tipo de gentalha, que tem muito mais a me engrandecer. Desse tipo que vocês visitaram eu já tive a minha dose e já formei meu conceito a respeito e não tenho medo de estar preso em algum ismo sobre isso. Na vida precisamos tomar partido, nem que seja pra depois descobrirmos estarmos errados.
E de censura quem entende bem é o dito cujo, que o diga Kajuru e muitos outros. Eu me reservo a uma pequena provocação aos meus pares, e fico feliz em perceber que muitos estão vacinados contra os bifes e as cervejas dos poderosos canalhas da nossa terra.
Eu admiro muitos tiriricas, o mundo precisa deles pra cutucar com vara curta muitos acomodados que não se retiram.
2010...o ano em que estaremos em perigo...