Neste final de semana fui finalmente conferir o Festival Palhaçada, quando este, infelizmente, já estava em seu último dia, o sábado que passou. Teatro lotado no Martin Cerêrê para a primeira peça da noite, Gueto Bufo, da gaúcha Cia do Giro. Certamente o público não estava preparado para o que veria, um espetáculo teatral adulto, crítico e de um humor iconoclasta, com momentos de grande lirismo.
O enredo é focado nas divagações e experiências de duas moradoras de rua, que se acomodam para dormir em frente a uma igreja, aparentemente católica. Neste palco, elas são as vedetes rememorando traumas, alegrias, debochando do machismo, da hipocrisia da Igreja, dos abusos contra os marginalizados, da moral conversadora. Uma carga sexual subversiva permea toda a peça, pondo em xeque os recalques e moralismos da platéia. Assim elas vão escancarando as demarcações dos guetos sociais, com o melhor da técnica bufanesca, que é buscar a poesia no grotesco.
Grotesco esse aliás que causou grande desconforto em alguns pais e mães desavisados que levaram suas crianças para assistir a um espetáculo que nem todo adulto engoliria.
O espetáculo certo para eles foi o apresentado em seguida, Semi Breve, com a dupla de palhaças Las Cabaças, do Pará. Esse sim, um espetáculo leve, que remonta à tradição dos palhaços circenses. A criançada e os adultos se divertiram muito.
No intervalo entre essas duas apresentações, números de malabarismo e a incansável Cia de Teatro Nu Escuro, que apresentou uma excelente adaptação da obra Boa Medida, de Lima Barreto. Mantendo a base da obra, a história de um Sultão que consulta diversas autoridades de seu reino para resolver os problemas do povo para no fim manter seus próprios privilégios, a Nu Escuro genialmente inseriu na adaptação fatos de opressão ao povo ocorridos em Goiânia, como o caso da ocupação Sonho Real, no Parque Oeste Industrial("nosso reino está sofrendo ameaças de forças do oeste...industrial") e o espancamento sofrido por foliões pela PM no carnaval deste ano.
Parabenizo a tod@s que organizaram o 2º Palhaçada e que venha o terceiro!
Para fechar essa postagem, uma nota sobre o espetáculo musical que fui assistir no domingo Sassaricando, e o Rio inventou a Marchinha. Inicialmente pensei tratar-se de um musical com um enredo, mas não foi o caso. No inicio uma das personagens lê uma carta testamento de seu avô(a voz em off de Hugo Carvana), que acaba por lhe deixar como principal herança gravações de marchinhas. A partir disso são apresentadas em sequência várias marchinhas que marcaram época nos carnavais cariocas, apresentando assim, através de suas letras, uma espécie de crônica de personagens e comportamentos da cidade, com muito humor e deboche típicos deste gênero carnavalesco. A pesquisa é assinada por Sérgio Cabral e Rosa Maria Araújo.
Uma banda precisa e virtuosa(Oscar Bolão na bateria!!), os ótimos arranjos de Luís Filipe de Lima e interpretes muito bons e simpáticos, como Eduardo Dussek, garantiram a empatia do público, mesmo que em alguns momentos a encenação das canções se torne um pouco enfadonha, principalmente no primeiro ato. Mas no final valeu, afinal, marchinhas são realmente irresistíveis.
Meu único lamento fica para o destaque dado por Dussek ao final do espetáculo, nos agradecimentos, a presença do senador Demostenes Torres, aquele mesmo que andou falando coisas estúpidas a respeito da escravidão no Brasil quando defendia o fim das cotas em universidades para negras e negros. Lamentável.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Palhaçadas, Bufadas e Marchinhas
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Parabéns pelo Blog!
ResponderExcluirFaltam mais espaços como esse de reflexão da produção cênica em Goiânia!
Valeu
http://identidadenuescuro.blogspt.com
Valeu Hélio! Aproveito para dizer que sou fã da Nu Escuro, tanto cenicamente como no grande esforço de produção que vocês realizam aqui em Goiânia. Salve salve Nu Escuro! Abraço!
ResponderExcluirmandou bem garoto... concordo em gênero, número e Grau... Sobre o agradecimento indevido ao Demóstenes, e também ao Nars Chaul... que ele também agradeceu, se lembra? (agradeceu não sei muito bem pelo quê)
ResponderExcluirPois é, lembro sim. Na verdade isso deve ter sido a produção local do evento que passou pra ele falar. A tradicional pagação de pau instituida pra quem supostamente tem alguma "autoridade" ou "notoriedade".
ResponderExcluirParabéns pelo blog. Arteiros de Goiânia agradecem.
ResponderExcluirEm tempo: os malabaristas que se apresentaram foram os alunos da Escola de Circo Martim Cererê e a Trupe Trip Trapo.
Não é pq fui professora deles não, mas a galera tá mandando bem à beça!
Olá Lua! Muito obrigado e valeu demais pela informação sobre os grupos aos quais os malabaristas pertencem. Realmente, mandaram muito bem. Parabéns a você e tod@s elxs!
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