quinta-feira, 22 de abril de 2010

Dúplice é múltiplo


Assisti ontem ao espetáculo Dúplice, dos artistas Rodrigo Cruz e Rodrigo Cunha, na programação do II Festival Nacional de Teatro de Goiânia. O teatro estava lotado, mais uma mostra de que a cidade possui plateia cativa para as artes cênicas, fato que pude perceber nos últimos festivais que frequentei.

Essa platéia, eu incluso, se encantou com as múltiplas sensações que este trabalho experimental nos causou. Desde aquele estranhamento e distanciamento que podemos sentir com a dança contemporânea até o riso e entrega que temos diante dos palhaços. Outros aspectos fundamentais e surpreendentes são a sonoplastia e a trilha sonora, produzidas pelas bocas e corpos dos protagonistas. São fantásticas as cenas em que os dois, de costas para o público, produzem sons e coreografias que se complementam. Em alguns momentos parecem duas crianças brincando, em uma disputa imaginária, cheia de ludicidade.

Ainda na fila do ingresso, uma moça comentou com sua amiga: "esse espetáculo não é de teatro, é de dança...não estou muito afim de ver dança...". Esse sentimento é até normal, afinal, trata-se de um festival voltado ao teatro. Mas o fato é que Dúplice não é um espetáculo de dança, nem de teatro. Podemos ver em cena elementos destas duas linguagens artísticas, não estancados, mas sim numa simbiose, e é exatamente nesta indefinição que reside toda a força do trabalho. Somos levados a um lugar onde não é uma linguagem definida que nos envolve, mas sim essa situação de transitoriedade em que várias sensações são experimentadas, desde os estímulos sonoros, cinestésicos, até o humor mais bobo, físico, que comunica de maneira tão incrivel com a platéia, sem a necessidade de qualquer palavra.

Dúplice é das coisas mais surpreendetes, divertidas e criativas que eu já vi nas artes cênicas.

Curtas e debates

Duas iniciativas muito boas do II FNTG são a mostra de cenas curtas, que acontecem antes e depois do espetáculos principais, e os debates sobre estes que acontecem logo após a última sessão, no cinema do Goiânia Ouro. Um trabalho importantissimo para a formação de público, troca de experiências entre artistas e para que a platéia possa dar suas impressões e as vezes buscar uma melhor compreensão dos processos que levaram a construção do que viram no palco. Parabéns aos organizadores.

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